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quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Jesus Christ Superstar" por Luiz Domingues

 Andrew Lloyd Weber e Tim Rice se conheceram em Londres nos anos sessenta. Como dupla, começaram a escrever canções e sua ideia original era apenas vendê-las à cantores e bandas pop como Herman's Hermits, por exemplo.

Mas foi uma oportunidade ocasional e totalmente amadora que os levou para outro direcionamento artístico, fazendo-os enveredar pelo caminho dos musicais teatrais. A pedidos, montaram um pequeno musical a ser exibido por crianças de uma escola suburbana de Londres. Criaram então, "Joseph", uma obra retratando a saga bíblica do escravo hebreu no cativeiro dos egípcios.

Daí, foi um pulo para Tim Rice que escrevia letras e textos, ter a ideia de escrever algo maior, ainda que baseando-se no espectro bíblico.
Segundo Rice, desde criança ele questionava a história oficial de Jesus Cristo, não por duvidar, mas por achar estranho não se dar crédito a outras visões, como a de Judas Iscariotes e Pôncio Pilatos, por exemplo.
Seguindo essa determinação, propôs a Lloyd-Weber começarem a trabalhar nesse tema e foram sendo compostas as primeiras canções.
A palavra "Superstar" surgiu ao acaso. Rice estava vendo um anúncio do novo álbum do cantor Pop Tom Jones, onde a legenda dizia:"Tom Jones, o superstar n° 1". E o conceito se reforçou quando várias pessoas próximas à ele, lhe disseram que aquilo tinha um "quê" de Andy Warhol.

 Em princípio, não pensavam em montagem teatral, por acharem inviável produzir cenários caros e recrutrar um elenco enorme de atores/cantores. Com alguns contatos que tinham no meio musical/fonográfico, produziram um compacto inicial com a música "Superstar", cantada por Murray Head, no final de 1970.

O compacto passou batido na Inglaterra, mas fez enorme sucesso em mercados impensáveis para a dupla, como o Brasil, por exemplo e na Holanda, virou um hino "gay", por mais bizarro que possa parecer...



Com esse sucesso inesperado, se animaram a gravar o álbum duplo com todas as músicas da peça e finalmente a montaram em Londres. Com a entrada em cena do empresário David Land (Por incrível que pareça, sem grande experiência musical e pasmem...empresário dos Harlem Globetrotters, aquela trupe de jogadores de basquete/malabaristas  ), a peça abriu caminho para cruzar o oceano Atlântico e ir parar na Broadway e dali, alavancar-se ao sucesso e entrar para a história.
E ao contratarem o diretor Tom O'Horgan, que dirigia "Hair"com enorme sucesso, sedimentaram o caminho para o êxito.

No disco oficial, a voz de Ian Gillan, interpretando Jesus é marcante. Na época, Gillan estava no auge de sua forma à frente do Deep Purple, agregando um séquito de fãs dele para a peça. E o álbum oficial da ópera-Rock estourou em 1971, chegando ao topo das paradas inglesa e americana.

Em 1973, o diretor de cinema Norman Jewison lançou Jesus Christ Superstar no celulóide, com grande êxito. As locações se dividiram entre cenários reais israelenses e estúdios americanos. Norman queria Ian Gillan para interpretar Jesus no filme, mas este recusou a oferta, por estar em tour com o Deep Purple (A tour do LP Machine Head, coroada com o lançamento do LP Made in Japan, ao vivo). Os produtores cogitaram Michael Dolenz (Ex- baterista do The Monkees) e David Cassidy (Ator-cantor que era ídolo teen graças ao seriado de TV: "The Partridge Family", ou em português, "A Família Dó-Ré-Mi"), mas Jewison acabou contratando Ted Neeley.

O filme fez enorme sucesso, reproduzindo de forma fidedigna o espírito do libreto original, ou seja, a ideia de Tim Rice em desdemonizar as figuras de Judas e Pilatos, mas retratá-los como apenas pessoas comuns que estavam atônitas com os reais propósitos de Jesus, sob o ponto-de-vista politico.

A estética hippie e anacrônica da paixão de Cristo, chocou a Igreja e outros setores religiosos e houveram inúmeras tentativas de cerceamento. Na África do Sul, por exemplo, a peça foi proibida.
                                                    

                                                         
No Brasil, assim como "Hair", a montagem foi imediata. A tradução do texto ficou a cargo de Vinicius de Moraes e interpretando Jesus, Antonio Fagundes e posteriormente, o eclético e saudoso, Eduardo Conde (Que também encenou "The Rock Horror Show").

Lembro-me de um bizarro "debate" no programa da Hebe Camargo em 1971 com conservadores, incluso um Bispo católico, atacando vêementemente a produção da peça no Brasil, ou seja, o normal para a mentalidade provinciana e direitista da época.

Diversas montagens se sucederam posteriormente em vários países do mundo. Uma recente na América contou com o vocalista da banda hard-farofa oitentista Skid Row, Sebastian Bach, como Jesus. Essa produção deve ter gasto muito com cabeleireiro e maquiadores no camarim...

Um novo filme foi feito em 2000, mas os produtores optaram por uma estética visual mais "modernosa", inspirando-se em Sci-Fi e deixaram o caráter Hippie original de lado. Apesar disso, não é ruim, contando com bons atores e cantores, mas na dúvida, fique com o original de 1973, onde Ted Neeley, Yvonne Elliman e Carl Anderson, dão show de vocalização/interpretação.
Luiz Domingues - Músico !!!





28 comentários:

  1. Não fosse a dose brega de Andrew Lloyd Webber, como por exemplo, em “EVITA”, poderia dizer que o clássico "I Don't Know How to Love Him"em Jesus Christ Superstar é um dos melhores frutos de sua obra, já que foi pincelado pela dramaturgia de Tim Rice e pelos arranjos dos rockers...
    Opa, tinha informações aqui que eu desconhecia. O bom de ler seus textos é que a cena se abre aos nossos olhos e tudo acontece em tempo real. É como se descortinasse o passado e você fizesse parte dele!
    Cada dia você está melhor, cabeludo! Gostei dessas linhas enxutas e milimetricamente medidas... Você escreve com carinho. Isso que faz seus textos ficarem deliciosos de serem lidos!
    Continue! Incentivadora nata você tem aqui! Sempre!

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    1. Obrigado pela atenção e elogios ao texto, Leonora. Particularmente, também acho que a veia Rocker dessa dupla de compositores se esgotou em Jesus Christ Superstar, pois os demais trabalhos parecem engessados no esquema careta dos musicais da Broadway (vide "Evita" e outros). E nesse caso, quase sempre embebecidos pelos excessos cafonas típicos do gênero. O que me faz pensar : Será que eles eram Rockers de fato ou apenas se influenciaram pela atmosfera da época ? Fico com a opção "B".

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  2. nem sei o q dizer mestre.
    uma obra de arte!!!
    amei!!!
    parabéns!!!

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    1. Maravilha, Lindéria !

      Que baita elogio ao texto. Muito obrigado !

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  3. Ja assisti esse musical quando era criança e curti de mais! Nem imaginava que havia uma nova versão! Vou procurar!
    bjs!

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    1. Verdade, Bruna !

      A segunda versão, produzida em 2000, não é ruim. Mas por ser modernosa, peca por perder a essência do original. Remakes geralmente erram por tentar adaptar o roteiro à passagem do tempo, mas é justamente aí que reside o erro primordial. O ideal é criar algo inédito e coadunado com a realidade do momento e não adaptar obras antigas à essa situação.

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  4. A arte, em sua forma bruta, não limita-se as coincidências ou acasos do projetado destino, mas sim aos suados passos da mais calma e arquitetada perseverança. É notável destacar que, em todos os textos apresentados até o momento, os artistas mencionados não davam-se contas de que seus trabalhos tornariam-se algo de precioso valor cultural, ou ao menos, de que estaríamos agora comentando tais feitos. Por isso, chega-se a conclusão que, a manifestação artística, seja em quaisquer umas de suas variações, nascem em decorrência direta da transformação e curiosidade de seus idealizadores, culminando assim, na concretização e propagação real de seu valor e respectiva importância. (Altieres Fonseca)

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    1. Falou uma grande verdade, Altieris. Realmente o artista quando cria, pode até sonhar com a repercussão de sua obra, mas não tem mesmo condições de dimensionar com exatidão o seu alcance. É nesse caráter imprevisível que torna-se ainda mais emocionante a passagem do tempo e o vislumbre desse alcance posterior.

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  5. Olha eu acho um bom filme pra 1973,mas contudo, não acho um filme bom. Ele se destaca pelo ano, por ser escrachado, original, e ideológico.
    Mas no meu aspecto de bom roteiro, e etc, um filme pra sentar e ver, quando se quer ver um movie, não é legal, na minha opinião, é marcante apenas históricamente.

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    1. Respeito inteiramente a sua opinião, Eric. Quando algo não desce goela abaixo, não desce e pronto. Está claro que neste caso, JC Superstar não lhe despertou impacto.

      Obrigado pela atenção !

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  6. Parabéns Luiz pelo texto , não conhecia sobre esse musical vou procurar .... valeu

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  7. Eu não consigo me concentrar em nada que se relacione a religião, por mais que seja de uma forma crítica, detesto. Ahahaha.
    Procurei um vídeo do filme, achei genial as danças etc... Vou assistir, quem sabe eu amplie minha visão com o filme, não é?
    Boa matéria. Beijos, man.

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    1. Entendo sua visão agnóstica, claro. Particularmente também não gosto da visão dogmática das religiões. Embora essa peça/filme seja baseada no Novo Testamento, creio que a mensagem nela contida extrapola a visão religiosa. Tratemos assim : A peça/filme trata do tema "Amor", com diversos conflitos envolvidos, tais como : Intolerância, preconceito, ganância, inveja, política etc.

      E como você bem observou, Nah, a música e a dança valem cada segundo do celulóide.

      Obrigado !!

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  8. Fantástico!Os teus detalhes me fazem viajar!
    Ri muito imaginando toneladas de maquiagem e cabelereiros a postos para o Sebastian...rsrsrsrs
    Vou rever o filme de 1973 e lembrar de tudo o que aprendi contigo aqui!Valeu Luiz,ameiiii!! beijOsss

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    1. Ha ha ha !!

      Já imaginou aquele Sebastian Bach no papel ? Mas vou te contar : A despeito dele ser um farofeiro oitentista, tem um vocal bom. Não faria feio, embora a missão de cantar o que Ian Gillan já cantou, fosse um grande desafio para ele.

      Obrigado pela atenção !!

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  9. Gostei muito do assunto , assisti quando era criança, talvez seja o momento de ver de novo! muito obrigada pelo texto me fez relembrar muitas coisas! abraços.

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    1. Que legal que o meu texto provocou-lhe reminiscências, Renata !!

      Fiquei feliz por saber disso e a convido a assistir novamente o JC Superstar.

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  10. Nossa Luiz, muito interessante saber todos esses acontecidos sobre a peça. Eu tenho o compacto com a música Superstar em casa e nem imaginava toda essa importância que ele tem.. rsrs

    Parabéns pela matéria, novamente trazendo informações preciosas aos leitores que apreciam a arte em geral.

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    1. Que legal, Caio !!

      Esse compacto que você possui tem um valor no mercado de colecionadores. Arrisco dizer que é difícil de achar por aí, demandando árdua busca pelos sebos, feiras de vinis e foruns de colecionadores na internet.

      Parabéns pela jóia rara !

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  11. Já passei por vários cultos de diversas vertentes. Hoje, como muitas pessoas tenho minha visão agnóstica.
    Acima de tudo respeito e reverencio a pessoa e legado de Jesus Cristo, nem ele próprio agradou a todos. E muitas palavras e pregações foram distorcidas. Pensando GLOBALMENTE não podemos afirmar - em minha opinião - que existe um UNICO DEUS. Mas acreditamos que existe uma força superior, ou forças superiores.
    O mais complexo a pensar e por demais intrigante é: o bem é simplesmente um ponto-de-vista. Será?

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    1. Questão complexa , mas interessante a que propôs no seu comentário. Não entrarei no mérito da discussão proposta por uma questão de tempo e espaço, mas fico contente com sua observação, pois certamente foi lendo o texto e se lembrando do filme, que você entrou nesse questionamento filosófico. Portanto, já suscitou uma boa reflexão de sua parte.

      Obrigado, Bruce !!

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  12. Texto MARAVILHOSO... :) !
    Como sempre ao ler teus textos, fico a par de coisas inéditas !
    E sim, optarei pelo original !

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    1. Muito obrigado, Bárbara !

      Que gratificante para mim e para o Juma que nos proporciona este espaço maravilhoso em seu blog, ler uma manifestação tão bacana de uma amiga/leitora/ouvinte da Rádio/Blog !

      E sim, o filme original é mesmo mais condizente com o espírito original da peça teatral.

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  13. Curti mto a forma como escreve o texto e como usa as palavras, não fica algo enfadonho de se ler, além do que merece mto ser parabenizado pela pesquisa exercida vc conseguiu fazer um belo resumo e nos deixar mto bem informados ao mesmo tempo!!
    Parabénd Luíz... ótimo trabalho!!
    Girl Rock!!

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    1. Obrigado, Vanessa !

      Que legal que curtiu o texto. Fiquei muito contente com suas palavras.

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  14. Muito bom o artigo... Realmente muitos não viram o que houve com Jesus pelo ponto de vista de Judas ou pilatos. Você é o melhor Luiz abraços

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    1. Ótima a sua observação, Edvander ! Realmente a grande sacada da obra, é nos dar uma visão diferente do texto dos evangelistas. Aqui, a visão de Judas e Poncio Pilatos foi melhor ouvida.

      Abraço, amigo !

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