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sábado, 9 de abril de 2011

"Ken Russell : O Mais Rocker dos Cineastas Britânicos"

 O Rock no Cinema Britânico. A Roxelle teve uma ótima ideia ao desenvolver esse tema. Resolvi recuar mais no tempo e falando de um grande diretor inglês que notabilizou-se por criar grandes filmes baseados na música, direta ou indiretamente com enfoque Rocker: Ken Russell.
                       
Nascido em 1927 em Southampton, tornou-se militar na juventude, tendo servido na Marinha e Aeronáutica de Sua Majestade. No final dos anos 1950, após abandonar a carreira militar e se casar, começou a se envolver com arte, inicialmente em pequenas produções de música e ballet, passando para a fotografia.

Contratado pela BBC em 1959, inicia carreira como documentarista, tendo feito significativos trabalhos para a TV enfocando bigrafias de artistas plásticos, divas do teatro e compositores da música erudita.

Profundamente interessado pela música Folk britânica, foi embrenhando-se no meio musical, conhecendo a cena da Swingin' London da segunda metade dos anos 1960 e preparando o terreno para sua carreira como cineasta que começaria a deslanchar a partir do final daquela década.

Seu primeiro filme musical foi a extraordinária cinebiografia do compositor russo Tchaikowsky, denominada "The Music Lovers" ( "Delírio de Amor"), lançado em 1970. Aí, Kenny já soltaria sua verve Rocker alucinógenamente psicodélica, com um show de imagens oníricas. Os delírios do compositor russo se transformaram em puro exercício lisérgico ao som de sua esplêndida música. O ator Richard Chamberlain, interpretou o compositor russo. A crítica achou exagerado e o público da música erudita não gostou das cenas alucinógenas, mas o fato é que Kenny passou a ser notado depois desse lançamento.

Uma nova incursão musical se daria em "The Boy Friend" (" O Namoradinho"), lançado em 1971. Protagonizado por Twiggy e Glenda Jackson, era um musical no estilo Cabaret, mas onde evidentemente elementos mais ousados foram colocados , fugindo do padrão usual.

Mas a consagração veio mesmo com "Tommy", lançado em 1975. O delírio máximo que poderia conceber para retratar a saga do menino cego, surdo e mudo da monumental Òpera-Rock do The Who.
Com carta branca de Pete Townsend, Ken Russell deu asas à imaginação e fez um dos filmes mais loucos da História do Rock, usando e abusando de alegorias, lisergia, nonsense e profusão de elementos oníricos.
Recheado de estrelas do cinema inglês e americano e estrelas convidadas do Rock, o filme foi sucesso absoluto de bilheteria e a obra do The Who dispensa comentários.

Empolgado com o sucesso estrondoso de "Tommy", Russell parte para um projeto ambicioso: Retratar a biografia do pianista e compositor Franz Liszt. Assim como já ouvia ousado ao retratar Tchaikowsky anos antes, carregou ainda mais na loucura e fez "Lisztomania" em 1976, ambientando a vida de Franz Liszt à sua época original, o século XIX, só que o retratando como um astro do Rock da década de 1970. Fazendo-o tocar em teatros lotados de fãs histéricas e groupies, mas em pleno século XIX, mais uma vez usou e abusou da loucura. Roger Daltrey, o vocalista do The Who que interpretara "Tommy", atacou de ator mais uma vez e viveu o compositor e pianista.
Emendando uma loucura na outra, Ken Russell colocou o compositor Richard Wagner como um nazista tresloucado; o tecladista Rick Wakeman(que gravou os temas de Liszt na trilha sonora do filme) como o Deus Thor, criado como um Frankenstein e Ringo Starr como um profano Papa Pop (Na sua estola Papal, figuras sensuais de Marylin Monroe).

Após "Lisztomania", Ken Russell deixou de lado um pouco o cinema de sabor Rock e seu próximo trabalho foi a ficção científica "Altered States" ("Viagens Alucinantes"), que não tem nada musical, nem Rocker explícitamente, mas é fortemente influenciado pela contracultura, pois quem nos anos 1960/1970 tomou contato com a literatura antropológica de Carlos Castañeda, há de gostar desse filme, que por isso também é um ícone entre os apreciadores de Sci-Fi. As cenas do personagem do ator William Hurt, viajando de peyote e/ou mescalina numa caverna remota de um deserto mexicano com shamans locais, é um dos maiores delírios lisérgicos da carreira de Ken Russell.
  Atualmente Ken Russell está aposentado. Seu último trabalho foi em 2002, chamado "The Fall of the Louse Usher"
Por Luiz Domingues - Músico da Banda Pedra


 


34 comentários:

  1. Demais, o cara foi foda....ja tinha visto o filme Tommy, mas nunca havia reparado em quem foi o diretor!
    muito boa a matéria luiz...
    abraço

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    1. Sensacional, Jolivete !

      O Ken Russell foi um grande diretor e era apaixonado pela música, haja vista a enorme quantidade de filmes e documentários que dirigiu enfocando artistas da música erudita, Rock e Folk, principalmente.

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  2. Parabéns pelas preciosas palavras nobre Luiz, de fato, é deslumbrante ver como a arte ocupa as mais distintas lacunas de nossa vida, podendo assim notar a importância em saborear cada detalhe de suas vertentes, seja na pintura, literatura, arquitetura, música, fotografia e outras mais. Ken Russell, foi um celebre explorador destes feitos, abordando em suas obras pontos paralelos em diferentes ocasiões do tempo, dirigindo e transformando estórias guiadas pela paixão e experimentalismo, soando assim de forma singular e inovadora. Cultivemos os traços dessa cultura e saudemos os mestres do passado. (Altieres Fonseca)

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    1. Sem dúvida, Altieris ! Se havia um diretor que exaltava a música, resgatando o seu passado glorioso, era Ken Russell, certamente.

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  3. Tommy realmente é um filme excelente! Parabéns pela matéria, Luiz.
    Abraços.

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  4. Rick Wakeman como o Deus Thor!!! O CARa foi longe, muito bom!

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    1. Verdade...Em Lisztomania, O Kenny riu dos críticos que o chamavam de histriônico e exagerou mesmo, para valer !!

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  5. grande obra (Tommy)
    se escolher um filme músical esse é a minha escolha trilha fantástica ...com personagens heroicos da geração 70...
    parabéns pela matéria Luiz ...

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    1. Muito bom saber que Tommy é seu filme de cabeceira, Alan. Ele retrata a obra do The Who, com riqueza simbólica sem igual.

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  6. Muito bacana escreveres a estrada de quem fez Tommy,não sabia nada sobre Ken Russel.Fiquei impressionada que antes de tudo ele era militar...rsrss...que grata mudança!!Estou curiosa para ver os filmes que tu citas,li o livro do Castañeda,quero ver essa cena...rsrs
    Valeuuuuu Luiz...beijinhOssss

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    1. Krys : Recomendo todos os filmes do Ken Russell, sem excessão. Ele foi um diretor muito ousado e dessa forma, nunca teve receio de exagerar nas imagens metafóricas, alegorias ou delírios oníricos/lisérgicos. E Castaneda também, pois foi um autor literário que abriu portas além da antropologia.

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  7. Vi alguns de seus filmes, em especial,"Tommy" mas não tinha essas informações sobre seu diretor (Ken Russell).Valeu Luiz! abs..

    O fundo musical da radio, e do cacete! que beleza!

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    1. Que legal saber que acrescentei informações sobre o Kenny para você, Cuica. O cara era um grande artista.

      E o Juma certamente ficou enaltecido pelo elogio à Radio/Blog !

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  8. Excelente matéria! infelizmente não tive a oportunidade de assistir algum de seus filmes.
    O fundo musical muito bom mesmo!
    Parabéns Luiz.

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    1. Obrigado pela atenção, Hitalita !

      Recomendo assistir os filmes de Ken Russell, pois são ricos em imagens metafóricas, com uma boa dose de loucura !!

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  9. Além de um grande cineasta é um rocker!
    Parabéns pela matéria, Luiz!
    Mto legal!
    Beijos!

    P.S.: E o fundo musical do blog... ui! Não preciso nem falar nada...

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    1. Isso mesmo, Carol !

      Cineasta Rocker, mas também apaixonado pela música erudita e Folk. Esse foi o grande Kenny.

      O Juma adorou o elogio à rádio !

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  10. Parabens pela matéria Luiz, eu assisti alguns filmes, aliás gosto muito do ator Richard Chamberlain (Minha mãe é fã do seriado Pássaros feridos, interpretado por ele.rs)
    Bj!!

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    1. Obrigado, Naty !

      Sim, também gosto da cinegrafia do Ken Russell. E o Richard Chamberlain no tempo do "Pássaros Feridos", já era veterano (1981). Lembro dele na série de TV "Dr. Kildare", de 1961...

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  11. Grande matéria! Além de bem escrita, deu uma geral nas obras do diretor. Feito por quem entende do assunto cinema e música. Que o Luiz escreva mais coisas nesse blog! Abraços. Marinho

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    1. Obrigado pelos elogios, Marinho !

      Realmente o enfoque da matéria foi dar uma geral na carreira do Kenny, pois eu tinha certeza de que a maioria das pessoas o conhecia apenas por "Tommy" e na verdade, ele teve uma carreira prolífica.

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  12. Pois é Luiz Domingues ! Eu tenho o filme viagens alucinantes e realmente é uma maravilha assistí-lo.A experiência com mescalina é avassaladora, as visões por ela proporcionada não puderam ser transmitidas com exatidão no filme por conta da tecnologia da época,mas isso não importa, a mensagem foi passada e Carlos Castaneda foi sim crucial para a existência do Viagens...
    Saudações Luiz Domingues!
    Marcelo Prata

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    1. Concordo contigo, Marcelo Prata. A contribuição da obra literária de Carlos Castaneda para a elaboração do roteiro do filme "Altered States", foi nítida.

      Trata-se de um grande filme, enfocando esse tipo de experiência antropológica e particularmente, eu também o curto muito.

      Obrigado pelas observações pertinentes e enriquecedoras !!

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  13. Caramba!!! Do cara eu só conhecia mesmo o Tommy, obrigadíssima pelas dicas, vou procurar, eusestava meio sem vontade de assistir esse novo de Usher, mas agora acho que vale a pena conferir.

    Valew Luiz
    Bjão

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    1. Obrigado, amiga !

      Fico muito contente que meu texto tenha revelado-lhe outras facetas do Ken Russell, além de Tommy, que você já admirava.

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  14. Adorei muito ler! Me interessei muito em filmes citados que eu desconhecia, mas fiquei muito curiosa em vê-los. Principalmente "The Music Lovers" e "Lisztomania" me parecem muito bons!
    Parabéns pelo texto meu amigo! ;)
    Abraço!

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    1. Amanda : confirmo que são bons filmes para ver, ainda mais se você gosta desses compositores enfocados biográficamente. Mas como disse na matéria, são abordagens ousadas e portanto nada convencionais (assim como em "Mahler"). Dessa maneira, esteja aberta a ver filmes carregados em alegorias.

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  15. O maravilhoso, é que ele sem medo, faz com que grandes músicos tornen-se grandes atores também! Sem discutir que o cara realmente possui um dom, fez trabalhos únicos. Nossa muito legal conhecer melhor a trajetória de vida e trabalhos dele. Adorei!!!

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    1. Muito legal saber que curtiu a matéria ! Você enfocou um aspecto interessante : Realmente ele descobriu um talento a mais no Roger Daltrey, transformando-o num ator. Depois de Tommy e Lisztomania, Roger faria muitos outros filmes, conciliando com sua carreira de vocalista do The Who e carreira solo, também.

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  16. Sensacional Luiz, é muito importante recebermos este tipo de informação sobre grandes genios das artes, seja ela musical, teatral, ou de qualquer outro segmento. Como lhe disse anteriormente: agora minha lista de filmes está um pouco maior, rs, e será mais legal ainda assistir a obra de Ken Russell depois de conhecer um pouco sobre a sua trajetória e seu envolvimento com a música.

    Grande Abraço!

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    1. Certamente, Caio ! Sua lista de filmes a serem vistos, aumentou !!

      Abraço !

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  17. Ken Russell era o “infante terriblé” do cinema,um dos melhores,meu preferido,o filme ''Tommy''marcou a minha vida,tive o privilégio de ver no cinema nos idos de 82,no final do filme a platéia aplaudiu de pé,muito marcante,maravilhoso. excelente e emocionante texto Luiz,parabéns como sempre vc arrasa,abraço. R.I.P Ken Russell

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    1. Kim: Sei o quanto você curte a carreira cinematográfica do Ken Russell e portanto, o quanto sentiu a sua perda. Concordo com suas observações ! Ele foi mesmo o "Infante Terriblé" do cinema britânico e mundial !

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