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sexta-feira, 25 de maio de 2012

AIRHEADS...ABAIXO O JABÁ *****



Vencer no mundo artístico, seja lá qual for a área, é sempre muito difícil. Talento, carisma e expressão não garantem ao aspirante a artista, que ele vá chegar lá, naturalmente.
 
E como se não bastassem as dificuldades habituais dessa caminhada, existem também as barreiras mafiosas, o poder oculto, as maracutaias.
 
E dentro desse campo de possibilidades maléficas a serem vencidas, existe a infame instituição do "Jabaculê", popular "Jabá", uma espécie de propina que faz com que um artista tenha suas músicas executadas nas rádios e lhe garante exibições na TV, matérias em importantes jornais e revistas e a inevitável colocação de sua música na trilha de uma novela de TV, onde por pelo menos seis meses, sua canção estará na boca do povo que a associará à um casal de personagens que brigarão em todos os capítulos do folhetim, para no último, casarem-se e serem felizes para sempre.
 
Portanto, diante dessa barreira quase intransponível, não há aspirante a artista que não sonhe em fazer o que os personagens do filme "Airheads" ("Os Cabeças de Vento" em português), fizeram...
 
A estória gira em torno da banda de Rock, "The Lone Rangers", um trio formado por Chazz Darby (Brendan Fraser), Rex (Steve Buscemi) e Pip (Adam Sandler).
 
Tocando em espeluncas de Los Angeles durante os anos noventa, não passam de mais uma banda pesada e sem nenhum diferencial naquela cena, que lhes ofereça uma oportunidade.
 
Então, percebem que uma estação de rádio deu chance à uma banda do mesmo patamar deles, chamada "The Sons of Thunder" e resolvem levar sua demo-tape buscando a mesma execução.
 
Mas nem conseguem entrar na rádio e dessa forma, forjam a entrada, invadindo-a, sumáriamente. Colocam a fita na máquina e o som começa a ser transmitido, mas ela emperra e se destrói, arruinando a única chance de divulgação que tinham.
 
O pessoal da rádio os expulsa, mas munidos de armas de brinquedo, os membros da banda simulam uma dominação e assim, começa o imbróglio.
 
Uma série de confusões cômicas sucedem-se, com a polícia cercando o prédio e uma negociação iniciando-se para que libertem os reféns e se entreguem.
 
Mas eles não são bandidos, apenas querem que o som da sua banda seja divulgado e daí, precisam que a ex-namorada de Chazz leve outra cópia, tornando-se assim uma exigência negociada com a polícia.
 
Nesse interim, uma conversa é interceptada e os funcionários da rádio descobrem que a estação iria mudar o seu perfil e seriam todos despedidos. Com essa revelação, solidarizam-se com os músicos, dificultando a resolução do falso sequestro.
 
Nesta altura, a conversa toda já havia se tornado pública, sendo transmitida ao vivo e milhares de pessoas se aglomeraram nas cercanias do prédio, exigindo que a banda não fosse presa e tivesse sua chance artística.
 
Por fim, um empresário astuto que logo percebeu a publicidade gratuita em torno da banda, oferece-lhes contrato de gravação. 
 
Claro, mesmo sendo uma comédia escrachada, trata-se dos Estados Unidos da América e sem chance de ter "jeitinho", os caras vão presos pelo delito, mas o grand finale é um show de Rock na prisão, com a banda mesmo detida, se apresentando e comemorando a venda de milhões de discos.
 
Fantasia e comédia mezzo pastelão. 
 
Mas diga aí você leitor que é músico e tem uma banda autoral, sonhando em fazer sucesso : Quando assiste "Airheads" , não se solidariza com a banda ? Quem em sã consciência não gostaria de extirpar o jabá da face da Terra ? Respondo : Os que recebem-no...
 
Direção de Michael Lehmann e participações de atores como Joe Mantegna, Michael McKean (Spinal Tap), Chris Farney, David Arquette e Amy Locane entre outros.
 
A trilha gira em torno de bandas pesadas de Los Angeles nos anos noventa e o baixista britânico Lemmy Killmister do "Motorhead", faz uma ponta divertida também, além de Robbie Zombie, da banda "White Zombie" (e que acumula há algum tempo a atividade de diretor de cinema, especializado em terror e fã declarado de José Mojica Marins, o nosso Zé do Caixão).
 
Filme leve, boa diversão e com esse fundinho de verdade ao mostrar a dura realidade dos bastidores mafiosos do mundo das artes, principalmente na música, onde quem não tem dinheiro, não alcança o estrelato, não importando seu talento pessoal, tampouco a qualidade de sua música.

Luiz Domingues - Músico

8 comentários:

  1. Há alguns anos auxiliei a Banda Versus. Tínhamos amizade e levei-os para tocar na Universidade São Judas Tadeu/Mooca por duas vezes. Mas na TV e no rádio tinha que pagar uma fortuna para aparecerem e não deu... Infelizmente, porque o baterista João era um dos melhores que eu já tinha visto. O mundo perdeu a oportunidade de vê-lo tocar.

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    1. Olha, Lourdes, realmente é uma batalha inglória. E se por muitos anos eu tinha a crença de que era só uma questão de dinheiro, fui aprender que não é não. É um jogo mafioso, onde é preciso ter contato com os detentores do poder, pois é todo um trâmite de tráfico de influências e ações fechadas dentro de um poder centralizador. Não basta colocar as verdinhas em cima de uma mesa, mas sobretudo, ver se te aceitam nesse grupinho de iniciados.

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  2. Muito bom esse filme,ótimo texto amigo! :-)

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    1. Verdade, Kim !

      Um filme divertido, mas que toca numa ferida terrível no mundo das artes, que é esse "ágio" vergonhoso e mafioso, chamado "jabá".

      Obrigado por ler, comentar e elogiar !!

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  3. Fico imaginando quantos talentos se perderam por aí, por causa dessa máfia... e quanta banda ruim fazem "sucesso" também por causa dessa máfia...
    Tudo é questão de dinheiro e poder. Não importa as qualidades.

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    1. Janete, eu toco há 36 anos. Se for arrolar a quantidade de músicos, compositores, cantores, letristas e outros artistas dentro da música que conheci e tinham um talento absurdo, ficaria horas escrevendo. A maioria esmagadora ficou no limbo, tendo que desistir da carreira por absoluta falta de apoio para ter um lugar ao sol e poder viver de sua arte.

      Muitos morreram sem nenhum reconhecimento, outros se tornaram amargos e não suportam nem se lembrar de sua tentativa de tornaram-se artistas, outros abraçaram profissões "rentáveis" e uns tantos insistem em lutar, apesar da penúria.

      O pior de tudo nem é ficar à mingua, sem condições de se manter, pois de uma forma ou de outra, na necessidade, as pessoas acabam se virando. Acredito que a grande dor moral e psicológica é deparar-se com o paradigma generalizado de que você deve ser um "mau" artista e por isso não chegou "lá". Se não aparece no Faustão, se sua música não toca na novela das 9, se não senta-se no sofá do Jô Soares e dá risadas das brincadeiras infames do gordo, não significa que não tenha valor, que não tenha uma carreira etc. Mas aos olhos da grande massa, esse é o parâmetro e aí dói na alma ver artistas de plástico, forjados em laboratórios de marketeiros, fazendo sucesso estrondoso.

      Essa injustiça é que machuca.

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  4. Luiz, compartilho a ídeia do comentário da Janete... mas, grata por estar abordando e veiculando este tema, pois acredito que "não há mal (como este) que sempre dure"...Abraço, Elizete.

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    1. Claro, Elizete . Numa visão macro, entende-se o processo pelo viés da espiritualidade e de fato, o fator karma explica muita coisa e lógico, nada é eterno nesse sentido.

      Abraço !

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