Texto de Luiz Domingues......músico em São Paulo
Um dos filmes mais loucos produzidos no início dos anos setenta, foi Zachariah, de 1971, sob produção e direção de George Englund.
Isso porque ele foi concebido como um western, com todos os clichês típicos desse gênero clássico, mas com a inserção de bandas de Rock elétricas do século XX, num anacronismo surreal. E como se não bastasse isso, o roteiro foi baseado no mote filosófico da obra "siddhartha"do romancista alemão, Hermann Hesse.
Como conciliar conceitos tão díspares e agradar a audiência ? Nessa questão, George Englund parece não ter se preocupado, realmente.
O filme gira em torno dos personagens Zachariah (John Rubinstein, filho do pianista erudito Arthur Rubinstein) e Matthew ( Don Johnson, muitos anos antes de ficar famoso pela série de TV, Miami Vice).
Eles são amigos e através de uma confusão gerada num saloon, Zachariah mata um homem, mesmo sendo em princípio uma novidade para ele, que era mero aspirante a pistoleiro. Passam então a se envolver em assaltos a bancos e outras ocorrências criminosas por conta das circunstâncias.
A gang de ladrões de bancos com a qual se associam, é simplesmente o Country Joe and The Fish, uma das bandas mais loucas da cena psicodélica californiana dos anos sessenta. Imagine então vê-los como bandidos do velho oeste e intercalando assaltos com shows de Rock, usando carruagens como palco e tocando instrumentos elétricos plugados numa época em que não existiam tomadas...
Outra participação Rocker é da James Gang, que também aparece, capitaneada pelo seu grande guitarrista , Joe Walsh.
O produtor queria contratar o baterista do Cream, Ginger Baker, para protagonizar Zachariah, suprema loucura que o superb baterista recusou, abrindo vaga para John Rubinstein que era ator de ofício, pelo menos.
Outra participação musical muito legal, foi do baterista Elvin Jones, que tocou na banda do saxofonista John Coltrane, feríssima do mundo do Jazz. Elvin Jones faz um solo de bateria no filme, espetacular.
White Lightnin', é outra banda que comparece no filme.
Num dado momento, os amigos Zachariah e Matthew se desentendem por causa de Belle Star (interpretada por Pat Quinn), uma linda mulher e dona do bordéu.
Está armado o clima para o supremo clichê do gênero : O duelo, com todos os planos e contraplanos que se tem direito, focando dedos nos gatilhos, respiração ofegante, olhares, suor escorrendo, sol escaldante e blocos de feno voando etc. Ah...como é bom ver um bang-bang na sessão coruja...
Contudo, o diretor optou por um desfêcho que certamente Franco Zeffirelli teria feito, ou seja, digamos mais ...esvoaçante.
A crítica caiu de pau, por considerar essa mistureba toda, uma insanidade. Nenhum crítico de cinema levou a sério. Fãs da literatura holística de Hermann Hesse, acharam quase um escárnio atribuir "Siddhartha" como influência do roteiro e Rockers preferiam ver Country Joe and The Fish ou James Gang, tocando em palcos bem equipados, ao invés de carroças do velho oeste...
Pessoalmente, assisti esse filme pela primeira vez em 1979, por incrível que pareça, não num cine-clube como o Bijou que eu frequentava nos anos setenta aqui em São Paulo e costumava passar filmes obscuros como esse, mas na TV. Foi exibido na extinta TV Tupi, numa semana temática de filmes sobre Rock e movimento Hippie. Ainda me lembro da resenha desdenhosa que a Folha de São Paulo publicou no dia dessa exibição, dizendo algo do gênero : "Bang bang de hippies e pauleira numa boa, sacou ?"
Nunca mais soube de outra exibição na TV, nem mesmo em canais a cabo.
Ainda no elenco de apoio, Dick Van Patten e a banda New York Rock Ensemble, que aparece tocando no cabaret de Belle Star.
Apesar de reconhecer que George Englund exagerou na salada de ideias que tentou alinhavar, o filme tem seus méritos, nem que seja pelas apresentações musicais. A ideia de inserir conceitos dos livros de Hermann Hesse no entanto, acho que se diluiu pois o ambiente rústico do western, não é propício para se falar em paz & amor, ecologia sustentável ou vegetarianismo, holísticamente colocados na sua literatura.
Se essa foi a primeira intenção de Englund como produtor e diretor, aí sim, receio que tenha falhado.
http://www.youtube.com/watch?
Zachariah parte 1
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Zachariah Parte 2
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Zachariah Parte 3
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Zachariah Parte 4
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Zachariah Parte 5
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Zachariah Parte 6
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Zachariah Parte 7
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Zachariah Parte 8
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Zachariah Parte 9
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Zachariah Parte 10
pow Luiz muito legtal o seu texto''como sempre''eu me lembro de ter visto esse filme na extinta(TV TUPI)também,foi lá que eu vi o filme The Boyfriend"O Namoradinho"do Ken Russell pela primeira vez,a cena final com a Twiggy & Christopher Gableé,é uma das mais criativas e umas das que eu mais gosto até hoje.voltando ao''Zachariah''não me lembro de muita coisa só que era muito louco rsr...vou rever pelos links,abraço amigo!
ResponderExcluirExatamente !! Eu também assisti pela extinta TV Tupi, em 1979. Bem lembrado, The Boyfriend também foi exibido nessa saudosa estação de TV e realmente havia uma caprichada sessão de cinema todas as noites. Lembro-me também de assistir diversos clássicos , de Fellini à Hitchcock, nas sessões noturnas em sua grade de atrações.
ExcluirAbraço !
Tem jeito de ser bem legal esse filme..! e falando dos clichês do genero, parecem ficar ocultos com todo o enrredo inusitádo: gênero
ResponderExcluirbang-bang e bandas de rock no elenco em pleno cenário faroéste...deve ser muito legal : )espero um dia assistir..
valeu pela dica Luiz,
Beijo.
Sem dúvida, Leila !
ExcluirO mote do filme é muito inusitado exatamente por isso.
Obrigado por ler e comentar !
anacronismo surreal : como é possível?
ResponderExcluirAnacronismo - Expressa falta de alinhamento, consonância ou correspondência com uma época.
ExcluirSurreal - Que causa ou denota estranheza, não pertencendo à esfera da realidade.
Coaduna-se perfeitamente, portanto ao que quis dizer em relação à proposta do roteiro do filme "Zachariah", pois bandas de Rock no Velho Oeste, podem perfeitamente ser consideradas anacrônicas, nesse sentido. E também surreais, pois é algo fora da realidade e causa a estranheza implícita à esse conceito.
Sendo assim, caro Sr.(a) anônimo(a), qual a razão de seu espanto ?