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sábado, 5 de novembro de 2011

GRACE OF MY HEART....POR LUIZ DOMINGUES

TEXTO DE LUIZ DOMINGUES,MÚSICO DA BANDA KIM KEHL E OS KURANDEIROS
   
Grace of my Heart

No final da década de quarenta, a revista Billboard cunhou o rótulo : "Rhythm and Blues", ou "R'n'B, para designar um novo derivado do Blues, que havia se fundido à estilos jazzisticos como Jump Blues, Swing e Hard Bop.

No final dos anos cinquenta, o R'n'B era extremamente popular na América, alçando ao estrelato, grupos vocais negros de extrema qualidade.

Mas numa era pré-Beatles e pré-Folk via "Protest Songs" , as gravadoras tinham o hábito de contratar compositores fixos, para alimentar tais grupos que nem sonhavam em compôr suas próprias canções.

Inúmeros compositores talentosos começaram suas carreiras nessas condições, no fim dos anos cinquenta, caso de Carole King e Gerry Goffin, que formavam um casal.

É nesse contexto que gira a estória do filme "Grace of my Heart" de Allison Anders, lançado em 1996.
Assim como "The Rose" nunca explicitou ser a biografia de Janis Joplin, "Grace of my Heart" também não se proclamou a biografia oficial de Carole King, mas as semelhanças e insinuações, não dão margem de dúvida de que na verdade, é mesmo.

A personagem Edna Buxton (illeana Douglas) é uma garota rica, herdeira de um império industrial criado por seu pai , mas sonha ser cantora. Participa de um teste numa gravadora e passa, mas logo percebem que ela também tem talento como compositora e pianista.

Então, o produtor Joel Milner (John Turturro) a contrata e sua carreira vai subindo, como compositora de sucesso. E por sugestão de Joel Milner, passa a usar o nome artístico de : "Denise Waverly".

Denise envolve-se emocionalmente com outro compositor, Howard Laszatt (Eric Stoltz) e vão trabalhar juntos. Após alguns sucessos, o casamento rui pela infidelidade contumaz de Howard e ela vai embora com a filha do casal.

Os tempos mudam e chegando à metade dos anos sessenta, a "British Invasion" praticamente sepulta a figura do compositor de aluguel nas gravadoras americanas. Com o sucesso dos Beatles e de outras bandas britânicas, a nova onda é o próprio compositor se lançar como intérprete, tocando e cantando suas próprias músicas. O mesmo estava acontecendo com os artistas da música folk americana, com Bob Dylan na comissão de frente.

Denise conhece então o compositor e vocalista de uma banda de surf-music muito famosa, que já mergulhado na lisergia do movimento hippie, quer produzi-la, usando todo o experimentalismo típico dessa nova Era.
Eles se envolvem como casal e vão morar numa comunidade hippie. Todavia, ele exagera nas drogas alucinógenas e num momento de insanidade, entra no mar e se afoga, sem que isso fosse um suicídio, necessáriamente...

Abalada com essa perda e três filhos para criar, ela reencontra o seu primeiro produtor, Joel Milner e finalmente lança seu primeiro LP, no início dos anos setenta, com lindas canções, letras expressivas e interpretação notável...o LP se chama "Grace of My Heart", o título do filme, mas é inevitável não associá-lo à "Tapestry", o fantástico primeiro LP de Carole King, lançado em 1971.

As coincidências com a biografia de Carole King são muitas, a começar pelo Lp que citei acima. Realmente, Carole King e seu primeiro marido, Gerry Goffin, trabalharam no edifício Brill de New York, onde vários compositores ocupavam escritórios e criavam canções em expediente comercial.

O personagem Joel Milner (JohnTurturro), foi inspirado em dois produtores famosíssimos dessa fase dos anos cinquenta até os setenta : Phil Spector e Don Kirshner.
The Shirelles, Everly Brothers e outros grupos de R'n'B reais, foram retratados nos grupos fictícios do filme.

O personagem Jay Phillips (Matt Dillon) foi claramente inspirado no baixista e compositor dos Beach Boys, Brian Wilson. Ele está vivo, apesar de bastante sequelado pelo uso de drogas pesadas, mas seu irmão, Dennis Wilson (o baterista dos Beach Boys), realmente morreu afogado. Contudo, a licença poética de ir caminhando para o mar, foi clara referência ao filme "A Star is Born", quando o personagem Norman Mainer, deprimido pelo sucesso de sua mulher em detrimento de sua decadência como ator, suicida-se, entrando passivamente no mar.

A trilha de "Grace of My Heart" foi composta essencialmente por Burt Bacharah e Elvis Costello, com algum reforço de outros compositores, Joni Mitchell, por exemplo.

A produção ficou a cargo de Ruth Charny, Daniel Hassid e um certo Martin Scorsese...

Gosto do filme por acompanhar, mesmo que veladamente, três fases importantes na carreira de Carole King, com ótimos atores envolvidos, boa direção de arte e boas canções. 

8 comentários:

  1. excelente texto Luiz,muito curioso para ver o filme,ainda não conhecia...curto muito as musicas da Carole King,otima compositora,foi ela que compôs a musica de abertura do filme ''Head'' dos The Monkees''Porpoise Song''ela merece todas as honras.mais uma vez obrigado por mais uma aula de conhecimento musical, abraço amigo! :)

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    1. Muito legal , Kim !

      Fica a dica desse bom filme que mesmo veladamente,retrata a trajetória de Carole King, uma compositora maravilhosa.

      Abraço !

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  2. Outro filme que eu desconhecia!Gosto das músicas da Carole,mas nunca fui pesquisar a fundo a estrada dela na música,essa é uma boa hora e depois ver esse filme,tão bem detalhado por ti Luiz!Obrigada por mais essa boa leitura e dica!
    beijOssss

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    1. Aconselho mesmo que você assista esse filme, Krys, pois dá uma boa ideia de como foi a trajetória de Carole King na música, mesmo com os produtores não declarando oficialmente se tratar disso.

      Beijo !

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  3. interessante a historia muito bem elaborada e com certeza é um grande ensinamento pq derrepente agente conhece o nome e nem sempre as historias !! gostei muito fiquei curiosa par ver na integra ! valeu bjs

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    1. Muito legal, Claudia !

      Pode assistir que é um ótimo filme.

      Beijo !

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  4. Oi, Luiz
    Ouvi um pouco Carole King nos anos 70.
    Bom ler os teus textos, pois ficamos sabendo de alguns momentos da vida de alguns artistas.
    Um grande abraço

    Janete

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    1. Que legal, Janete !

      De fato, a Carole King tem uma trajetória pessoal muito importante na música e este filme retrata suas várias fases.

      Abraço !!

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