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terça-feira, 21 de junho de 2011

............."The Rocky Horror Show"


Na primeira metade da década de setenta, Londres borbulhava entre várias vertentes do Rock simultâneas que explodiam pela cidade. Hard-Rock, Progressive Rock e Glitter-Rock estavam entre as mais populares. E em se tratando de glitter ou glam Rock, David Bowie era o supremo Deus a instaurar a androginia misturada ao conceito Sci-Fi.

Bingo ! Essa mistura do Rock com a androginia e sob fortes referências de velhos filmes de ficção científica e terror das décadas de 1930 e 1950 principalmente, fez com que o autor/diretor australiano, Jim Sharman criasse o bizarro musical "The Rocky Horror Show" em parceria com o ator britânico, Richard O'Brien que compôs as músicas.

A estréia na Inglaterra se deu no Royal Court Theatre Upstairs em 19 de junho de 1973, mas logo mudou-se para um espaço mais badalado, o Chelsea Classic Cinema. Até 1980, somaram-se 2960 apresentações.
Na Broadway em New York, a estréia foi em 10 de março de 1975.

A sinopse do espetáculo misturou essas referências do cinema de terror e ficção científica, com o erotismo andrógino da estética do Glam Rock britânico, numa colcha de retalhos muito louca.

Trata-se da estória de dois jovens cientistas recém casados ( Janet Weiss e Brad Majors ) que a caminho de sua lua-de-mel, passam dificuldades por uma estradinha sob forte tempestade. Avistam um castelo e resolvem pedir socorro, usando o telefone...
Todos os clichês dos velhos filmes são usados, mas sob a égide do glitter Rock, onde o cientista maluco ( Dr. Frank-N-Furter ) dono do local é um travesti e seu mordomo e a governanta, igualmente lânguidos e macabros (Riff Raff e Magenta ). Ele está dando vida à um homem (Rocky Horror), tal como o Dr. Frankenstein e no castelo, o clima é o de um Cabaret berlinense dos anos vinte.
Para salvar o casal, aparece o Dr. Everett Von Scott (clara referência ao Dr. Van Helsing de Dracula). Mas Frank-N-Furter já havia seduzido os dois com seus joguetes sexuais.
No final, Frank-N-Furter, Riff Raff e Magenta revelam serem alienígenas do planeta "Transilvânia", da galáxia "Transsexual"e que a dança "Double Feature", era na verdade uma dança de acasalamento de seu planeta.

Apesar dessa mistura de conceitos malucos, o espetáculo agrada aos fãs do glitter Rock, além de homenagear singelamente, os clássicos do cinema de horror e ficção científica.
 

O filme foi lançado em 1975 e foi dirigido pelo seu mesmo criador e diretor no teatro, Jim Sharman. O co-autor, Richard O'Brien interpretou o mordomo Riff Raff e o casal de incautos cientistas, foi interpretado por Susan Sarandon e Barry Bostwick. Tim Curry interpretou o cientista alienígena e transsexuxal Frank-N-Furter, Patricia Quinn como Magenta e Jonathan Adams fez Everett Von Scott, além de Peter Himwood que fez a criatura "Rocky Horror".
O personagem "Eddie"que é assassinado pelo cientista travesti e servido como prato no jantar (dá-lhe Zé do Caixão !!) foi feito no filme, pelo ator/cantor Meat Loaf.

No Brasil, a primeira montagem foi histórica. O ator Rubens Corrêa dirigiu o espetáculo que tinha Eduardo Conde como o Cientista-travesti Frank-N-Furter e no papel do casal, Wolf Maia e Diana Strella. Lucélia Santos fez Magela e pasmem...Tom Zé interpretou o mordomo Riff Raff. O narrador maluco foi feito por Nildo Parente . A estréia foi no Rio de Janeiro em janeiro de 1975. Eduardo Conde teve que deixar a montagem tempos depois, por problemas de saúde e foi substituído por Edy Star. A peça foi montada em São Paulo no mesmo ano, com Paulo Villaça, Antonio Biasi e Lucia Turnbull, substituimdo alguns atores da 1ª montagem, que sairam. A adaptação musical ficou a cargo de Zé Rodrix, Jorge Mautner e Kao Hossman. A Som Livre lançou o LP com a trilha sonora cantada pelo elenco brasileiro, mas esse disco nunca mais foi relançado.

                                         
No tocante ao estilo musical, o glitter Rock comanda do início o final. Dessa forma, referências ao Rock'n'Roll cinquentista clássico, são visíveis.
Com muito piano boogie Woogie, parece que estamos ouvindo um disco do Mott the Hoople com atores e dançarinos encenando um filme de Sci-Fi.

Como curiosidades, cito que Mick Jagger ligou para Jim Sharman e ofereceu-se para interpretar Frank-N-Furter, mas este preferiu contratar o ator Tim Curry.
E o castelo do filme, era um cenário da produtora inglesa "Hammer", famosa companhia de filmes de terror e Sci-Fi dos anos 1950/1960.

Para quem curte cinema clássico de terror e Sci-Fi, a letra da música "Science Fiction, Double Feature", dá uma ideia dessas citações . Separei algumas frases soltas, não a letra inteira:

"Michael Rennie was ill the day the Earth Stood Still"...Citando o filme "O Dia em que a Terra parou" de 1951 e onde o ator Michael Rennie interpretou o alienígena Klaatu.
"And Flash Gordon was there in Silver underwear"...O Grande Flash Gordon que saiu dos quadrinhos para o cinema dos anos trinta !
"Claude Rains was the invisible man..." Referência ao filme "O homem Invisível" de 1933 e dirigido por James Whale , com Claude Rains no papel principal.
"Far from Wray and King Kong"...Fay Wray interpretou a mocinha no clássico King Kong de 1933.
"It came from outer space"...Sci-Fi clássica da década de cinquenta, dirigida por Jack Arnold.
"Dr. X will build a creature...O grande mistério do Dr. X de 1932 e dirigido por Michael Curtiz (Casablanca) onde o personagem Doutor X fez a criatura chamada "The Full Moon Strangler" .
"See androids fighting Brad and Janet, Anne Francis stars in Forbidden Planet"...Referindo-se ao filme "Forbidden Planet" de 1956, dirigido por Fred M. Wilcox e onde a atriz Anne Francis interpretou "Altaira "Alta" Morbius".
"I Knew Leo G. Carroll was over a barrel, when Tarantula took to the hills"...Leo G. Carroll era um ator britânico que fez vários filmes de Sci-Fi e trabalhou em seis filmes de Alfred Hitchcock. "Tarantula" é um filme Sci-Fi de 1955 e dirigido por Jack Arnold.
"Dana Andrews said prunes, gave him the runes"...Dana Andrews foi um ator de carreira prolífica em Hollwood e em 1957, atuou no filme "Curse of the Demon" que foi baseado no conto: "Casting the Runes". 
"Said George Pal to his bride  and when world collide"...George Pal foi um diretor que trabalhou com o gênero Sci-Fi e realismo fantástico em sua filmografia. Aqui, a referência foi o filme "When world collide"( "O Fim do Mundo" em português ), do diretor Rudolph Maté.
"I Wanna go to the late-night double feature picture by RKO"... A RKO foi uma das principais companhias de cinema americanas e que produziu inúmeros clássicos desse gênero de filmes.

Resumindo, uma homenagem tresloucada, mas muito divertida.
Luiz Domingues - Músico

12 comentários:

  1. Analisando a estética, Tom Zé tem cara mesmo de mordomo...rsrs.
    Em outubro do ano passado aconteceu uma homenagem dos 35 anos do musical. Eu me lembro bem da reportagem pois foi uma produção que contava com meus amados Jack Nicholson e Danny DeVito.
    O que eu detesto, com todas as letras, sem parecer uma ufanista metida à besta, é essa péssima e ridícula mania do Brasil do século passado, importar enlatados. Digo do século XX pois parece-me que essa tendência vem diminuindo! Não que não mereçam credibilidade as montagens e cultura "extra-nação" mas nossa realidade não é essa, venhamos e convenhamos, né?
    Enfim, apesar do meu ponto de vista patriota (rsrsrs) abstenho-me de meu olhar crítico e deixo o coração falar. É maravilhoso "ler" você e a profundidade de sua "escavação musical".
    Parabéns!

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    1. Respeito seu ponto de vista. Claro que existe esse aspecto da macaquice brasileira, mas a despeito disso, ainda acho The Rocky Horror Show, um musical bacana, principalmente pelas citações ao cinema de terror e Sci-Fi.

      E tem algumas boas canções, também.

      Obrigado pela atenção e comentário !

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  2. Grande Luiz .. mais uma grande matéria envolvendo a história do mundo rock em detalhes da década de 70 , onde alavancou grandes nomes e heróis da história do rock como citado no texto , grande abraço Luiz Parabéns ....

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    1. Obrigado, Alan !

      De fato é mais uma página setentista do Rock, revista e divulgada às novas gerações.

      Valeu !!

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  3. muito legal a matéria,a primeira vez que eu vi este filme,eu fiquei com pena da namorada do Eddie,ele não merecia aquele fim trágico kkk...tem partes que eu gosto,outras nem tanto,mas é um ótimo filme,como já dizia o grande Eddie:hot potatoes bless my soul,I really love that rock & roll!

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    1. Ha ha ha !! Realmente o Eddie foi destroçado no filme...

      De fato, não se trata do maior musical de todos os tempos, mas é bem legal como diversão sem maiores preocupações com mensagens edificantes, profundidade etc.

      Obrigado por ler e comentar !

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  4. Deve ser divertido,depois de ler tudo isso,só me resta procurar e ver esse filme!
    Luiz,tu como sempre,resgatando,abrindo os caminhos com teu conhecimento!Parabéns e obrigada! bjs

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  5. Adorei ler a matéria! Apesar de não ter assistido AINDA a sua boa escrita em detalhes desperta a ansia em ver o filme! Me parece muito interessante, o estilo, as misturas envolvidas faz total o meu gosto!
    Cara, até o Meat Loaf envolvido! *-* Muito dez! Essa eu quero ver! :D

    Parabéns pela matéria, para nós que gostamos de cinema, música, psicodelia é um prato cheio esses acessos!

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    1. Muito legal seu comentário, Amanda !

      É uma visão divertida sobre o terror e a ficção científica dos filmes clássicos do gênero e com boa música como pano de fundo.

      Obrigado por ler e comentar !

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  6. Bem interessante essa mistura envolvendo as vertentes do rock mais o terror e ficção de antigamente..sem contar os detalhes do cientista travesti e o todo.. muito bem elaborado musical e filme..excêntrico eu diria..rs;se tiver oportunidade tenho bastante interesse em vê-lo, me parece muuito legal mesmo :)

    Adoreei a matéria Luis, vc é fera no assunto, Bjs.

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    1. Você falou tudo no seu comentário, Leila. O filme tem todos esses elementos por você descritos. Realmente, vale a pena assistir, pois como você mesma observou, excentricidade é o que não falta !!

      Obrigado por ler, comentar e elogiar !

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