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domingo, 12 de junho de 2011

..........."Godspell, a esperança ! "

          
Stephen Schwartz era um jovem universitário no final da década de sessenta, quando resolveu fazer sua tese de doutorado na universidade na forma de um libreto operístico, inspirado nas parábolas de Jesus Cristo segundo o evangelho de São Mateus.
Associando-se ao compositor John Michael Tebelak, criaram as canções do musical "Godspell".

A concepção do musical foca nas parábolas de Jesus (Algumas também tiradas do Evangelho segundo São Lucas) e dá pequena ênfase à paixão de Cristo, ao contrário de Jesus Christ Superstar, agradando mais ao público protestante, daí o sucesso maior nos Estados Unidos.

A ideia original era fazer um musical de roupagem pop e meio na estética Hippie, mas nem tanto quanto Jesus Christ Superstar. A concepção de mesclar isso às tradições do teatro Clown, também acabou virando marca do musical. As canções se dividem entre o pop urbano, folk, vaudeville e o gospel.

A primeira apresentação foi amadorística, encenada por alunos da Carnegie Mellon University em 1970, mas logo em seguida foi montada no circuito off-Broadway (La Mama Experimental Theatre Club), estreando em fevereiro de 1971.

Dali para chegar à Broadway, foi bem rápido e logo seus direitos já haviam sido vendidos para o cinema. Paul Shaffer, o exímio tecladista do talk show de David Letterman, era o tecladista da banda original na Broadway.

A estrutura no libreto original, era de uma trupe de teatro que seguia um chamado divino para encenar essas passagens de Jesus através de suas parábolas. Jesus era retratado como um clown/hippie com referências pop, como a camiseta de Superman que usa em seu figurino e seus apóstolos acompanhando essa estética.

A mais famosa canção do espetáculo, "Day by day", virou um hit pop, chegando ao n° 13 do hit parade da Billboard. E teve regravações, como por exemplo do quinteto soul/R'n'B, The Fifth Dimension (que gravara canções do musical "Hair" também, anos antes), Cilla Black e outros.

                                                              

No cinema, o filme foi lançado em março de 1973, sob a direção de David Greene ( Inherit the Wind, Bella Mafia etc ) e produção de Edgar Lansbury (irmão da atriz Angela Lansbury, veterana dos anos 1930/1940).
Quanto ao roteiro, logo na primeira cena, pessoas comuns ouvem o chamado de um João Baptista hippie e largam seus afazeres para serem batizados num chafariz. Jesus aparece e após o batismo, começa a sua pregação, com coreografias  bem elaboradas e sob as músicas bem compostas do musical. Dali em diante, uma New York completamente vazia se torna o cenário para a atuação da trupe de clows. Para quem conhece bem a Big Apple, é muito legal ver diversos pontos tradicionais da cidade como locação do filme.

Chama muito a atenção a cena filmada de helicóptero, onde uma coreografia foi realizada sob o teto do World Trade Center, pouco antes de sua inauguração oficial. É uma cena de tirar o fôlego e ganhou dramaticidade não imaginada em 1973, quando nem no pior pesadêlo se pudesse imaginar que as duas torres ruiriam em 2001.

Victor Garber interpretou Jesus no filme e ele era do elenco canadense que interpretava no teatro. David Haskel fez o papel duplo de João Baptista/Judas Iscariotes.
Garber acabou se tornando mais um ator de TV, mas sem grande destaque. É cara conhecida em papéis secundários nos seriados, mas seu último trabalho mais significativo foi como "Jack Bristow", pai da protagonista "Sidney Bristow"(Jennifer Garner), no seriado "Alias" de 2001 e primeiro grande sucesso do produtor JJ Abrams, o criador de Lost e Fringe.

No Brasil, o ator/produtor  Altair Lima, que produziu e encenou "Hair", comprou a briga e montou Godspell em São Paulo no ano de 1973, com Antonio Fagundes interpretando Jesus e sua então esposa, Clarice Abujamra assinando a coreografia. A montagem no Rio de Janeiro foi em 1974 no Circo Botafogo, com Zezé Motta, Wolf Maia, Lucélia Santos e Kadú Moliterno entre outros atores.

Minha lembrança pessoal com Godspell foi ver um brief da encenação na TV, num programa cafonérrimo da extinta TV Tupi, chamado "Clube dos Artistas". Após a exibição, a preocupação dos apresentadores Ayrton e Lolita Rodrigues era questionar Fagundes e demais atores, sobre imbecilidades a respeito de seu figurino...
E vi o filme pela primeira vez na TV, numa madrugada ainda nos anos setenta, no bom tempo em que a TV brasileira mantinha uma grade de cinema de muita qualidade. Mas isso é assunto para outro dia.

Godspell não tem o soco no estômago que "Hair" proporcionava, nem a mesma contundência de "Jesus Christ Superstar", mas trata-se de um bom musical, com canções notáveis como "Day by day", "Prepare ye the way of the Lord", "God Save the People", "All for the Best" e para não dizer que não provocou nenhuma controvérsia, a música "Turn bacK, O Man" gerou protestos de religiosos mais fundamentalistas que não se conformaram com a ideia de Jesus dentro de um cabaret, sendo "cantado" por uma prostituta.
Curiosamente, é uma de minhas canções prediletas de Godspell, com sua estética vaudeville, piano swingado e malandro ao melhor estilo New Orleans, naquele clima de saloon do velho oeste.
Luiz Antonio Domingues - Músico...
   

17 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi, Juma, que boa lembrança do Luiz Antonio e que belo texto tb!
    Vi este filme na TCM há dois ou três anos e gostei, não sabia que havia sido encenado por aqui. E caramba, Luiz, vc lembrou do Almoço com as Estrelas...rs. Parece que foi há mil anos!
    Muitas vezes me sinto um dinossauro neste mundo tão hi-tech e sempre é bom saber que mais pessoas dividem recordações conosco.

    Abração

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    1. Oi, Laura ! Certamente que me lembro do programa "Almoço com as Estrelas". A TV Tupi tinha duas versões distintas desse cafonérrimo programa. Eu me recordo da versão de São Paulo, com Ayrton e Lolita Rodrigues. Na versão do Rio, o apresentador era Aerton Perlingeiro. Mas o que eu citei no texto foi outro programa, igualmente cafona, chamado "Clube dos Artistas", apresentado pelo mesmo casal e que era exibido às sextas, no horário das 21:00 h. Lembro de ver o elenco de Godspell fazendo um sketche promocional do espetáculo, com Antonio Fagundes protagonizando Jesus Cristo, tal como Victor Garber fez no cinema. Valeu pela atenção e comentário postado !

      Grande abraço !

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  3. Sinto saudade dessa magia da década de 70 e eu nem a vivi fisicamente! Parece que toda "tinta dourada" foi usada naquele tempo e o que sobrou para nós foi apenas o chamuscado do brilho setentista!
    Seus textos são documentários, né? Aula de história! Nem tem como contestar!
    E, para não perder o costume, continue alimentando nossas almas... Hehehe...

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    1. A impressão que eu tenho dos anos sessenta e da primeira metade dos setenta, é que uma nuvem de poeira colorida foi pulverizada na cabeça de todos e os artistas expressaram com toda a sua volúpia, esse banho de inspiração, criatividade e beleza estética. Mas um dia, o aviãozinho pulverizador decidiu não espalhar mais nada e tudo ficou escuro, tenso, melancólico...

      Obrigado pela atenção e incentivo, Leonora !

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  4. Para nós que vivemos nesse mundo tecnológico e virtual, e ainda assim damos valor a bela arte, é muito agradável descobrir esses acontecimentos que deram origem aos clássicos que fizeram parte de nossas vidas.

    Hair foi o filme que mudou muitos conceitos que eu tinha, Jesus Christ Superstar eu ainda não assisti inteiro, mas só de ouvir o compacto que tenho aqui já fico maravilhado.

    É muito bom saber sobre a história dessas coisas.

    Parabéns pelas matérias Luiz.

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    1. Como fico contente em saber que minhas matérias tem alimentado sua vontade de se conectar nessa vibração, meu amigo ! Sou suspeito para falar, pois adoro essas duas décadas, 60 e 70.

      Obrigado e fique sempre ligado aqui na Rádio/Blog do Juma !

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  5. Como sempre, você nos presenteia com um aula de história da música.
    Muito bom o texto. Há situações que eu nem sabia que tinha acontecido.

    Parabéns por mais um brilhante artigo

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    1. Eu é que lhe agradeço por sua atenção e cuidado em sempre postar um comentário de apoio !

      Obrigado, amiga !

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  6. pow muito legal,eu via muito este filme na sessão coruja da globo...só não me lembro bem do enredo rsr...aquela abertura antiga do fantastico foi inspirada nele,eu acho...parabéns pela matéria.

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    1. Kim, eu nunca vi ninguém da produção do Fantástico admitir isso publicamente. Contudo, o que você disse faz muito sentido e eu também tive essa impressão, assim que assisti aquele ballet da abertura do programa, na sua primeira exibição, em agosto de 1973, ou seja, achei que era inspirado no Godspell que estava saindo no cinema e com versão brasileira no teatro, fazendo barulho, com Antonio Fagundes no elenco.

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  7. Parabéns luiz , nada vindo de vc me surpreende mais !!
    Vc é simplesmente The Best !!!
    Texto fantástico, uma aula .
    Te adoro,,,, Isaura

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  8. Clássico é Clássico.!!.. polêmicas e histórias da música!!!!
    Luiz parabéns.... Grande abraço! Magrão

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  9. Bom, não assisti Godspell.. mas pela forma como foi retratado achei bem interessante e diferente o musical.. a palavra que melhor descreve é:excêntrico. E, uma nova versão dele seria bem legal. Assim que tiver oportunidade verei : )
    legal a matéria e ótimo texto..

    beijo Luiz.

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    1. Legal, Leila !

      De fato, a excentricidade da abordagem é muito marcante, mas não surpreende se analisarmos com as lentes daquela época, de ventos hippies ainda bem acentuados.

      Beijo, amiga !

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