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quarta-feira, 16 de março de 2011

"Uma Noite de Tédio Burguês na Metrópole Cool" - Por Luiz Domingues da Banda Pedra*****

Dia desses, assisti pela enésima vez o filme "Noite Vazia" , do diretor Walter Hugo Khouri numa reprise de um canal pago especializado em cinema brasileiro.
Tenho uma cópia à minha disposição na minha estante de DVD's, mas não resisti ao impulso de vislumbrar novamente a arte do velho Khouri.

Sou muito fã de Walter Hugo Khouri e seu cinema "europeizado", no  bom sentido do termo. A despeito de seus detratores,  eu curto muito o seu estilo sem fronteiras, sem apêgos regionalistas, sem maneirismos ou clichês tupiniquins.

Falando do filme, o tédio dos dois personagens principais, vagando como dois zumbis hedonistas pelas boites de uma São Paulo começando a se insinuar cosmopolita, é um dos pontos fortes da obra.

Mas tem mais atrativos: O encontro com as duas prostitutas (Que certamente reforça o esteriótipo do vazio existencial dos dois homens);
enquadramentos realçando essa característica; Diálogos , muitas vezes ríspidos entre os quatro personagens; climas "Bergnianos" no tocante às cenas de silêncio e planos longos ; Ecos da Nouvelle Vague (principalmente nas cenas de peregrinação dos dois amigos pela noite de São Paulo) ; etc.

Isso sem contar com as marcas registradas que o Khouri desenvolveu ao longo de sua cinegrafia, tais como : O Jazz que sempre norteava a trilha sonora; Referências às artes Plásticas (Khouri sempre dava um jeito de inserir algum elemento , nem que fosse de forma sutil, como um livro de Rene Magritte jogado despretenciosamente sob um poltrona, numa panorâmica de câmera ou algo do gênero) e o forte apêlo erótico, sem vulgaridade, mas pelo viés da psicologia analítica (Olhe o Bergman aí de novo, como influência...).

E para encerrar, impressiona-me muito os minutos finais do filme, com a melancólica saída de cena das prostitutas, deixadas na Praça Roosevelt, quando ainda era um pátio de estacionamento repleto de Gordinis, Aero Willys e DKW's daquele longínquo 1964...
E mais melancólica ainda é a despedida dos amigos, durante um silencioso trajeto pela Av. 9 de julho, diante de um amanhecer gélido e cheio de desesperança, após uma "Noite Vazia"...
 Está encerrada aí , uma das mais brilhantes páginas do cinema brasileiro. 







   

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